
COMO INTERPRETAR PARA A SUA ZONA
por Jorge
Ponte
Artigo cedido pelo
Katembe à revista "MUNDO DA PESCA"
Por vezes ouvimos um pescador dizer: “o
Windguru previa ondas de 5 metros, mas nem 2 têm”. Daí o pescador
conclui que o site consultado errou, e que não terá qualidade nas
previsões. As coisas não são bem assim. O Windguru tem,
naturalmente, algumas falhas, que podem ser ultrapassadas se
soubermos interpretar correctamente as suas previsões. É exactamente
isso que vou procurar transmitir neste artigo, com base na minha
experiência de alguns anos de acompanhamento e observação directa do
site, e do estado do mar em diferentes zonas do país, isto para além
de alguma pesquisa científica sobre ondas e a respectiva propagação.
Antes de se passar a uma análise da página do Windguru, é essencial
compreender os fenómenos naturais presentes.
1. A geração de
ondas no oceano e sua propagação
1.1- Porque
há ondas? É
a primeira pergunta que se coloca.
As ondas do mar são geradas por
depressões cavadas no meio do oceano, que geram ventos muito fortes
(tempestades), que “perturbam” a superfície do mar. É similar a uma
pessoa atirar uma pedra a um lago (em que a pedra representa a
tempestade e o lago o oceano). Verifica-se que as ondas se propagam
até atingir a margem do lago (que representa a costa). Naturalmente,
quanto maior for a “pedra” (tempestade), maiores as ondas, assim como
quanto mais longe da margem a pedra bater na água, mais fracas as
ondas chegarão à margem. Só há uma ligeira diferença nesta analogia:
no oceano, uma perturbação não gera ondas que se propaguem em todas as
direcções de igual modo como uma pedra num lago. Normalmente, no
Oceano Atlântico, as depressões propagam-se no sentido Oeste (W)- Este
(E). Assim, o cenário mais comum é a formação de depressões no
Atlântico Norte, que se propagam depois para E/SE/NE, atingindo a
Costa Europeia.

1.2 - Como se comportam as ondas ao
chegar a uma costa? As
ondas, ao atingirem a costa, vão modelar-se à mesma. Estas serão
maiores em locais da costa onde a sua direcção for perpendicular à
linha de costa e onde, para lá chegarem, não encontram nenhum
obstáculo físico (ilhas, cabos, etc). As ondas têm capacidade para
contornar esses obstáculos, mas, quando o fazem, perdem energia,
diminuindo a altura. Isso dependerá muito da direcção da ondulação,
logo esse será um parâmetro muito importante quando se consulta o
Windguru, mas que a maior parte das pessoas despreza. De seguida,
explicarei o porquê, numa análise às diversas formas da nossa costa.
2. A ondulação
na costa portuguesa
2.1 - Costa Norte e Centro (até
Cascais)

Esta parte da costa é orientada para
Oeste/Noroeste, pelo que recebe grande parte das ondulações ao
longo do ano, sem que estas tenham de contornar qualquer obstáculo
físico.
Note-se, no entanto, um encurvamento da
costa na zona do Porto, pelo que se a ondulação vier de noroeste é
provável que as ondas sejam um pouco menores nesta zona, devido ao
facto da linha de costa já não ser tão perpendicular em relação à
direcção das ondas.
2.2 - Linha do
Estoril
A
linha do Estoril já se encontra abrigada das ondulações de Noroeste. O
Cabo Raso é um obstáculo físico muito importante, e as ondas, para
atingirem esta zona, terão de contornar esse obstáculo. Pode
concluir-se que quanto menos a norte for a sua direcção maior será a
probabilidade de haver ondas. Obviamente, uma ondulação de Sul ou
Sudoeste será a que gerará maiores ondas nesta zona.
Poderá, porém,
haver ondas grandes, caso a direcção destas seja Oeste ou Noroeste e a
ondulação tiver energia suficiente para ultrapassar o Cabo Raso. Por
exemplo, uma ondulação de Noroeste com 5 metros terá esse efeito, pois
conseguirá contornar o Cabo.
2.3 - Trafaria - Cabo Espichel
Esta
zona é bem mais exposta às ondulações que a linha do Estoril, mas
ainda está algo “protegida” pelo Cabo Raso das ondas de noroeste. No
entanto, uma ondulação normal (1,5/2 metros) de noroeste, consegue
atingir esta zona da costa, embora em menor escala que, por exemplo,
as praias de Sintra. De resto, verifica-se que uma ondulação de Oeste
entra quase a 100% neste pedaço de costa, podendo haver ondas também
numa orientação de sudoeste.
2.4 - Cabo Espichel-Setúbal
Esta
é a zona da costa portuguesa onde ao longo do ano se verificam menos
de dias ondas significativas. Isso deve-se ao facto de ser totalmente
abrigada das ondulações de noroeste, pois estas teriam de contornar o
Cabo Espichel, que representa um obstáculo físico de muito maior
envergadura do que, por exemplo, o Cabo Raso representa para a linha
do Estoril. Nem ondulações nesta direcção muito fortes conseguem
chegar em condições, por exemplo, a Sesimbra.
Naturalmente, só haverá ondas nesta costa quando a direcção for de sul
ou sudoeste, ou eventualmente um swell de oeste muito forte que tenha
energia para contornar o Cabo Espichel.
2.5 -
Setúbal-Sines
Toda
esta costa é ainda bastante influenciável pelos dois Cabos já
referidos, relativamente às normais ondulações de Noroeste. No
entanto, é certo que quanto mais para sul, menor será essa influência.
Uma ondulação de oeste ou sudoeste já seria bastante mais produtiva no
que respeita a ondas nesta zona. Note-se que grande parte dos
pescadores da Costa Vicentina, quando existe uma ondulação forte de
Noroeste, deslocam-se para esta zona da costa mais abrigada.
2.6 - Sines- Sagres (Costa Vicentina)
Alguns
podem perguntar-se porquê que tenho mantido as imagens do mapa desde
Sintra. A razão é a importância de se poder verificar a posição dos
obstáculos físicos para o Sul. E nesta costa verificamos que, a partir
de Sines, a influência dos dois Cabos começa a diminuir nos Swells de
Noroeste, sendo essa influência nula a partir da zona de Vila Nova de
Mil Fontes. Apenas nas ondulações exactamente direccionadas de Norte
(algo raras), os dois Cabos exercerm alguma influência sobre esta
parte da costa. Assim, a Costa Vicentina, é, na sua maior parte,
totalmente aberta às ondulações.
Verifica-se também um encurvamento na direcção do mar a partir da zona
de Odeceixe, que permite que as ondulações de noroeste atinjam a
parcela da costa Odeceixe-Sagres com uma direcção mais perpendicular à
costa, resultando, portanto, ondas ligeiramente maiores que acima
desta zona.
2.7 - Algarve
Zona
protegida das Ondulações de Noroeste pelo Cabo S. Vicente. Nesta parte
da costa é normal aparecer o Suão (vento quente que sopra do sul), que
origina ondas de Sueste provenientes do Estreito de Gibraltar. Também
pode ser atingida por ondulações de Sudoeste ou Oeste (ondulação mais
fraca).
continuação
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