3.
Exemplo prático
Mostro agora um mapa de ondulação retirado do site de previsão de
ondas do IST, que demonstra bem o que escrevi anteriormente para a
ondulação mais comum (Noroeste).
Como se pode ver, este Swell do Noroeste (de média
intensidade), atinge com a sua força máxima todo o litoral Norte e
Centro, bem como a parte Sul da Costa Vicentina, a partir de
Odeceixe (2,5 m). Já a zona do Algarve e de Sesimbra, nada recebem
(0 - 0,5 m). A zona de Sines e Costa da Caparica - Cabo Espichel
recebem a 1,5 - 2 metros devido à influência do Cabo Raso, e a
linha do Estoril recebe a aproximadamente 1 metro.
Locais expostos
à maior parte das ondulações (Sagres).
4. O Windguru
Finalmente, depois de compreendidas algumas noções básicas
ajustadas à nossa costa, vamos à interpretação do Windguru. O
Windguru é um site muito bom para prever a ondulação marítima para
a costa portuguesa, mas não tem em conta a morfologia da sua
costa, o que, como já vimos, é um dado essencial para adaptarmos a
previsão ao nosso pesqueiro. Aqui vão alguns exemplos:
a) Se pedirmos a previsão para o Guincho, Carcavelos, Costa da
Caparica, Sesimbra ou Tróia, verificamos que a ondulação prevista
é muito semelhante em todas elas! Isso é um absurdo e um erro
enorme por parte do Windguru, pois como expliquei anteriormente,
cada um dos locais tem características de ondulação próprias!
b) Se pedirmos a previsão para a Carrapateira (Aljezur), Sagres e
Lagos, verificamos que as ondulações são muito semelhantes,
bastante inferiores, na maioria dos casos, aos locais referidos no
ponto a) - outro absurdo, já que a Carrapateira e Sagres se situam
num ponto muito mais exposto às ondulações do que Lagos, Sesimbra
e Tróia…
Porquê que isto acontece? Porque apenas
são consideradas as duas costas principais: a ocidental e a
algarvia. Assim, as previsões são apenas abordadas de forma
genérica, surgindo muito semelhantes, quer para Sesimbra quer para
o Guincho, por se situarem em pontos geograficamente próximos. Da
mesma maneira, a Carrapateira e Sagres são localizados na costa
algarvia, com as mesmas previsões, não se tendo em conta as
especificidades dos locais.
Como conseguimos contornar esta dificuldade?
Olhar para as previsões num local de exposição máxima e que o
Windguru interprete como tal (eu utilizo o Guincho). A partir
desses dados, consigo adaptá-los a qualquer local em Portugal, com
excepção da Costa Algarvia (pode ter outros focos de geração, como
o Suão): vejo qual a ondulação prevista para ter uma ideia da
força do Swell e a direcção do mesmo. Depois basta adaptar do modo
que descrevi anteriormente a cada local da costa.
Deste modo, conseguimos fazer uma previsão adaptada e muito
aproximada da ondulação para o nosso pesqueiro através do Windguru.
Há ainda outros factores importantes: a ondulação que temos falado
é aquela que é registada nas bóias ondógrafo, que medem as
oscilações da superfície do mar, antes das ondas rebentarem na
costa, mas o que interessa a um pescador de terra (ou surfista),
é exactamente o estado do mar na costa, na zona da rebentação. Aí
temos de olhar para mais dois parâmetros dados pelo Windguru: o
vento (direcção e intensidade) e o período.
4.1 - O vento
O vento é o principal agente responsável pela geração das ondas e
pela rugosidade na superfície do mar. Já devem ter notado, em dias
de vento, a superfície do mar irregular, com as “cabrinhas brancas
/ carneirinhos” em todo o lado. O vento gera ondas muito
irregulares e com períodos muito curtos e consegue “partir” as
ondas regulares formadas no Norte Atlântico. Assim, um vento forte
cria uma ondulação local e ao mesmo tempo estraga a ondulação que
vem “de fora”. Vamos analisar dois casos diferentes:
a) Temos uma nortada forte que vai criar
uma ondulação local de 4 metros, segundo o Windguru. A ondulação
lida nas bóias será próxima desse valor, no entanto, na costa
veremos um mar muito irregular com a altura das ondas a não passar
dos 1,5 metros.
Nota: Durante estas nortadas não temos, normalmente, uma geração
significativa de ondas exteriores, devido ao Anti-ciclone
associado a estas condições, que as bloqueia.
b) Temos uma situação de ventos fortes de noroeste que
acompanham uma tempestade forte vinda do Norte Atlântico. O
Windguru prevê que esse swell chegue com 6 metros de altura. Esse
vento forte irá tornar as ondas irregulares e mais baixas, mas
conservam a força que trazem ao longo da sua “caminhada”. Estas
condições geram um mar típico de ondas por volta dos 2,5/3 metros
com aspecto tempestuoso.
Analisemos agora uma situação em que o vento seja fraco ou nulo.
Neste caso, não haverá geração local de ondas, e toda a onda que
chegar à nossa costa é resultado de uma geração exterior. Esse
tipo de onda já é larga e perfeita, com período elevado e ideais
para o surf. Porém, para o pescador este tipo de mar é talvez o
mais perigoso, pois pode ter períodos de acalmia como de repente
se levantar ondas que varrem as pedras. É o tão chamado “mar
falso”, com as tais “7 ondas”. Caso o Windguru nos diga que chega
um swell com 3 metros e não haja vento, é provável que observemos
ondas com 3 metros de altura nos locais mais expostos. As ondas
mais altas em Portugal são normalmente geradas em dias com pouco
vento, mas com uma ondulação de fora muito elevada (> 6m).
4.2 - Período
O Windguru também nos fornece este parâmetro, e é fácil
analisar o tipo de ondas através dele. Resumidamente: Período alto
(> 13 s) significa ondas bem formadas e com força. Período baixo
(<10 s) significa ondas imperfeitas. Conclui-se que o swell gerado
no Norte Atlântico terá períodos altos e que uma situação de
Nortada gerará ondas locais com períodos muito curtos.
FIGURA 2: Aljezur (Março, 2006), com um
swell de 6 metros e período longo que gerou ondas entre 4/5
metros. Note-se a superfície do mar muito regular devido à
ausência de vento.
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