|
Ver a crónica 1 - As cavalas na
alimentação
Ver a crónica 2 - Histórias de VN
Milfontes
Ver a crónica 3 - O atum gigante
Ver a crónica 4 - O robalo do Vitor
Ver a crónica 5 - A
dentada da anchova
Ver a crónica 6 - O
Filho da Puta
Ver a crónica 7 - Robalo
com mais de 5 kgs
Ver a crónica 8 - Festival de
Páscoa
Ver a crónica 9 - A tintureira que
não o era
Histórias de Pesca
Crónica
nº 9
A TINTUREIRA QUE NÃO O ERA
A pesca embarcada estava parada
desde Fevereiro e as saudades eram mais que muitas.
Após uma aberta no serviço, foi
combinada à pressa um investida em Sesimbra para levar um
fornecimento de precioso líquido ao nosso comandante Jo, pois o
homem estava mais desejoso que mulher grávida, e eu igualmente
desejoso de fazer uma pesca embarcada ainda para mais
"diferente"....

Pois bem; após um noitada de S. João sem dormir, no dia Santo por
volta das 23 da noite aqui o Je, o Ivo Black e o Pisões, lá
rumámos ao reencontro de grandes amigos . Chegados ao local, e
como o dia de S. João ainda estava a valer, não nos fizemos
rogados a uma volta na romaria de Sesimbra, sempre acompanhados de
umas feveras e umas minis que por lá se vendiam e que sempre
ajudaram a recuperar da ressaca da noitada anterior pelas nobres
terras nortenhas...
Por volta das 4 decidimos descansar um pouco no carro e às 6 já
tomávamos o pequeno almoço lá pelos lados da marina. Após o
embarque e por interdição de uma grande área de navegação devido a
exercícios militares, parámos num pesqueiro com uma profundidade
de 80 braças (150m). O isco resumia-se a cerca de 20 kg de
sardinha... (dá a entender qual seriam os nossos alvos: PARGOS de
preferência GRANDESSSSSSSSSSSSS!).
Avisados que estávamos do tipo de pesca a realizar e da paciência
que teríamos de ter, por volta das 7.30 ja pescávamos com uma
agradável temperatura a rondar os 30ºC e mar com menos ondas que a
banheira lá de casa!
Muita aguagem e pouca actividade inicial, deram-nos a ideia de que
o dia não seria o melhor para aquele pesqueiro, mas dado a
interdiçao militar sabíamos que tinhamos que nos aguentar mais
umas horitas...
Com os primeiros exemplares de cantaril a aparecerem, seguidos
duns manhosos besugos kileiros, carapaus, e pata-roxas...a aguagem
era tal que os empachanços se sucediam a bom ritmo, mesmo pescando
com 300 grs de chumbo!!!!
Decidimos tentar pescar um pouco mais perto de terra e alterámos a
poitada para a zona das 65 braças... Resultados nenhuns....
Nenhuma aguagem mas igualmente nenhuma activadade do peixe...

Dava meio dia e
decide-se afundar novamente... desta vez perto das 85 braças, um
pouco mais fora e muito perto do limite da zona interdita à
navegação. Era cerca de meio dia, hora de iniciar as hostilidades;
toca a preparar os copos, que o alvarinho estava geladinho como
tudo e o franguinho assado com molho personalizado criavam um
espírito de " Que se lixe a pesca !!!!!". Claro que logo após o
almoço regado com alvarinho, com temperaturas a ultrapassar os
35ºc e sem ponta de brisa, era chegada a hora de inventar maneiras
de nos refrescarmos...
Assim, uns optaram, estranhamente, por pescar de formas
inovadoras: dormir com os pés na água e cana na mão, enquanto
outros aterraram dentro da cabine mesmo com as temperaturas
tórridas que se faziam sentir (já eram 2 noites em claro para
estes artistas)... também uns baldes de gua pelas costas abaixo
refrescaram ideias e não só ! Após o descanso dos guerreiros,
surgiram, durante cerca de uma hora, os nossos companheiros
preferidos, o golfinhos...mais de 30 exemplares que até com os
nossos pés vinham brincar.
Começaram entretanto a sair exemplares que já faziam as nossas
delícias, pela estreia: uma pescada para o Ivo de kg e outra um
pouco maior para mim... Tirar aquilo daquela profundidade ... vai
lá vai...
Perto das 14h toca a fazer a última poitada a umas ridiculamente
exageradas 93 braças, que, com a aguagem daquela altura faziam com
que 200m de multifilamento não chegassem para a pesca tocar no
fundo!!!!
Carapau ali e besugo acolá e finalmente aparece o maior
exemplar.... A história não é simples mas por incrível que pareça
começa em casa....Vamos lá então...
Estava a fazer o meu saco e pela primeira vez na vida de embarcado
ao olhar para as minhas luvas de neoprene lembrei-me de as meter
no saco para o que desse e viesse (sem saber bem para quê! )...
mas, voltando ao barco, estava a baixar a minha pesca juntamente
com o Pisões, nesta ultima poitada, e, pela primeira vez a pesca
dele lançada primeiro que a minha demorava mais que o normal a
chegar ao fundo... o homem começa a ficar sem linha no carreto e a
minha pesca começa a trabalhar de forma diferente igualmente na
descida....hummmmm... algo não está bem digo-lhe eu, desesperado,
pois tinha apenas mais uns 20 m de linha . Começámos então a
recuperar em simultâneo e após uns 40 metros, uma pancada em seco
sentida pelos 2 e que resulta no multi cortado para ele e numa
força brutal na minha cana....Cravei uma tintureira de certeza,
pensei... Cortou-te o multi e cravou no meu 6/0...
Começam de
imediato os agoiros, e rebenta essa linha, e o 0,40 não presta
para nada, e tu força isso, e tu fecha a embraiagem, e eu nem
conseguia mexer-me... o bicho levava linha e voltava a levar e eu
só ia trabalhando com a cana e pouco mais... Depois de uns longos
5 minutos começo finalmente a recuperar levando o raio da
"tintureira" sempre mais linha do que a que eu recolhia,
continuando naturalmente os agoiros pelos sujeitos do costume...
Olhei para trás, respirei fundo e "vocês amanhem-se que nem se que
seja só pela foto o raio do bicho vem para cima e mais nada!".
E assim foi; lentamente, pois os braços não davam para mais, o
raio do peixe lá vinha para cima até que a montagem chega ao barco
e peixe népia !!!!! Puxei a montagem para dentro e qual não é o
meu espanto: a linha do Pisões estava tão bem empachada que
aguentou aquela luta.... bem, pensei, ainda não acabou... se o
peixe lá está tem que vir para cima. Peço as luvas do meu saco (há
coisas do caraças...) e siga de alar o bicho à mão...foram mais de
90 metros a puxar o bicho à unha e quando espero a "tintureira",
já a agarrar no chicote da montagem, o raio do peso afrouxou e
fiquei incrédulo a olhar para o mar, vociferando irrepetíveis
pragas, quando o "menino" aparece por baixo do barco solto do
anzol Não houve tempo para muito, nem mesmo para o xalavar, foi
com o bicheiro que estava preparado para a tintureira que um golpe
certeiro do comandante fez embarcar o peixe!
Já apanhei muito peixe na minha vida mas este ficará guardado na
memória!
Visto que o trabalho foi totalmente de equipa todos tiraram fotos
com o exemplar, sendo que me coube a mim degustá-lo, uma vez que
fui quem teve a extenuante tarefa de o arrastar desde os 200 m de
fundo.
O peso ultrapassou um pouco os 3.6 kgs, o meu maior pargo até
hoje.
Terminámos com um jantar entre grandes amigos antes de nos
fazermos ao Norte. A troca de oferendas habitual decorreu com a
presença sempre indispensável do amigo Bruno.
Foi um dia como há muito não passava, pleno de Fisioterapia, com
mais um record batido, duas directas em cima, e um grupo de amigos
fantástico. São estes grandes dias que fomentam esta nossa paixão
pela pesca.
Um bem haja a todos, em especial aos meus companheiros de viagem
e, claro, um muito obrigado ao comandante Jó Pinto pelo dia que
nos proporcionou, assim como pelos seus ensinamentos. Até à
próxima!!!!!
Pedro Lourenço |