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a crónica 1 - As cavalas na alimentação
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a crónica 2 - Histórias de VN Milfontes
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a crónica 3 - O atum gigante
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crónica 5 - A
dentada da anchova
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crónica 6 - O
Filho da Puta
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crónica 7 - Robalo
com mais de 5 kgs
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crónica 8 - Festival de Páscoa
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crónica 9 - A tintureira que não o era
Histórias de Pesca
Crónica
nº 3
O ATUM GIGANTE
por Luis Vicêncio
Já lá vão uns largos anos desde que tive uma
história que me traumatizou para sempre.
28 de Agosto 1996, 21 milhas a sul de Tavira, dia lindo, mar chão. O meu pai
e o Mestre Américo (que já cá não está infelizmente) lá me convenceram nesse
dia a ir pescar à rola com engodo aos atuns. Comprámos 5 caixas de sardinha
para engodo e lá fomos para o mar.
Cinco canas na água, dos 15 aos 70 metros com os respectivos balões e lá iam
saindo uns atunzecos entre os 7 e 15 kilos, as inevitáveis tintureiras que
são uma chaga do caraças para desanzolar porque um gajo está sempre com medo
de lhes chegar as mãos á boca, até que de repente lá começa a carreto de 80
libras a cantar a uma velocidade do caraças. Tinha linha de 50 libras e um
leader de 80 libras, um azol 9/0 com uma cavala inteira viva. é um atum e
dos grandes diz o Américo, e num ápice o gajo levou mais de 400 metros de
linha para o fundo, sempre para o fundo porque ao contrário dos peixes de
bico que lutam á superfície, a tendência do atum é afundar.
Lá fomos dando banho ao carreto, afinámos o travão e puxávamos 50 metros e o
gajo passado um bocado levava mais 100. Lá foi vindo, sempre a passarmos a
cana entre nós e ao fim de 2 horas deram-me a honra de o trazer á borda do
barco e veio, estava aí a 1 metro da superfície e tinha um tamanho de
respeito. Calculo que muito para cima dos 200 kg. E foi nesse momento em que
o bicheiro entrou vagarosamente na água para esperar que a cabeça estivesse
a jeito que aquele monstro decidiu dar a última cartada. Subiu mesmo até á
tona de água, virou-se de repente criando uma folga no leader e apontou de
novo para o fundo partindo o leader com a chicotada. Ninguém disse uma
palavra desde esse momento até atracarmos o barco em Vilamoura. O desalento
foi total e o meu pai hoje com 81 anos quando falamos nisso olha para mim de
lado e abana a cabeça sem palavra.
Erro? Claro que sim, porque todo o pescador sabe que esse é o segundo
critico e fatal. È nesse segundo que o instinto diz ao animal que deve jogar
a vida com a última réstea de energia.
Mas é com os erros que se aprende e nesse dia cometemos
vários, levados pela excitação de apanhar um animal daqueles. Há quem
defenda que é o peixe que deve ir ao bicheiro que está imóvel dentro de
água, e há quem defenda que deve ser alguém a embicheirá-lo de forma rápida
e segura indo lá buscá-lo. Há quem defenda que também no atum alguém deve
segurar o leader firmemente com a mão enluvada e há quem defenda que isso só
se faz com os peixes de bico. Onde é que está a verdade?.
Quanto a mim acho que a verdadeira estupidez foi não ter
voltado a abrir o travão para o que desse e viesse. De qualquer modo o
culpado passou a ser inconscientemente o leader.
Um animal daqueles é fortuito nas nossas águas e certamente não voltarei a
ter outra oportunidade. A única pena que tenho é que o animal talvez não
tenha sobrevivido com o anzol espetado na queixada inferior.
É por tudo isto que o travão de um carreto deve ser não uma
preocupação mas antes uma obsessão para o pescador que pesca peixes grandes.
Luis Vicêncio
Este atum que capturámos tinha 104 kgs
dá para imaginar o tamanho do que se perdeu...
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